quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Dossiê


Por:  Marcia Maia
1 – Introdução
                O presente trabalho fora extraído das anotações feitas durante as aulas ocorridas na disciplina de prática de criação dramática, ministradas pela professora Gisele Vasconcelos em que demonstraram por meio de exercícios o método de jogos teatrais desenvolvido por Viola Spolin, que com sua linguagem vem estimulando o ator a buscar aperfeiçoar sua atuação no palco por meio do trabalho com a estrutura dramática (onde, quem e o quê). “Longe de estar submisso a teorias, sistemas, técnicas ou leis, o ator passar a ser o artesão de sua própria educação, aquele que se produz livremente a si mesmo.” (Ingrid Dormien Koudela).
                Ao se deixar levar pelo jogo teatral o ator passa a desenvolver uma maior sensibilidade com o que lhe é proposto a criar, de forma que a utilização de linguagem coloquial, direta e objetiva como a que é empregada por Viola Spolin, possibilita com que esse jogador (ator) se liberte das amarras e deixe fluir ações e intenções sem se prender ao que o outro possa achar, se tais movimentos, para chegar a objetividade do jogo, deixam feio ou bonito sua criação dramática.
                Gisele também aponta o encenador norte-americano Bob Wilson como um dos grandes inovadores na arte de jogar com elementos da cena, revelando para os alunos um formalismo por qual  é reconhecido como “é tudo perfeito”. Também, ele é conhecido por colocar no palco ritmos e tensões opostas com a utilização da lentidão e a retenção de movimentos.
Viola Spolin desenvolveu vários exercícios cujo objetivo era propor ao jogador (ator) a prática sob a forma de solucionar problemas a serem desenvolvidos no palco, durante a atuação.  Já BobWilson desenvolveu exercícios antinaturalistas, cujo cotidiano não se apresentava no palco, priorizando a estilização da atuação.
Assim, nesse primeiro dossiê vamos conhecer alguns registros feitos por mim durante a aula da professora Gisele quando esta nos propõe alguns jogos teatrais, tendo como fim a solução dos mesmos.
1ª Aula:
Gisele:  Criar cena a partir de material não dramático, ou seja investir em práticas em que não utilize texto originalmente dramatúrgico, tais com poemas, cartas... Ela cita como exemplo o Teatro do Oprimido de Augusto Boal.
Jogo: Passaporte: cada aluno escreve em um pedaço de papel seu nome ou como gostaria de ser chamado e um trecho de uma música que gosta. Todos se levantam, andam rápido, devagar, pulam, e vão ocupando cada espaço da sala, trocando os passaportes. E, por fim, a cada comando da professora, o nome que está escrito no passaporte deve ser pronunciado das seguintes formas: gritado, baixo, lento, cantado; sendo que todos falam ao mesmo tempo o nome que tem em mãos, e quando a pessoa cujo nome estiver sendo pronunciado pela outra consegui identificá-lo, o papel é trocado e no final cada um consegue reconhecer seu nome e ficar com o seu passaporte original.
Em seguida, há novamente uma troca de passaportes, também realizada através de comandos em que os espaços sejam ocupados de forma rápida, lenta, leve, saltitando e tendo como objetivo a troca dos passaportes. Porém, dessa vez os jogadores se colocam em circulo e cada um lê o trecho da música que tem em mão, e o jogador que identificar sua música, canta e outros jogadores que a conhece também cantam junto, e assim vai dando sequencia ao jogo. 
Gisele pede que seja escrito em uma folha de cartolina a indicação três ações em um esboço de roteiro e a turma é dividida em grupos para a construção dessa atividade.
Para encerrar Gisele pediu que os jogadores sentados em círculo falem por onde os seus sapatos andaram. Quando todos contam um pouco de sua caminhada até chegar à sala de aula, são convidados a participar de uma brincadeira que se chama Escravo de Jó, cujo objetivo estava em encontrar a harmonia entre a música e o gesto ao passar os sapatos, até que cada um ficasse com os seus próprios.   

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Diário de Bordo


Por Fernando Nascimento

Finalizar o primeiro período após anos sonhando em estudar teatro foi o primeiro passo significativo na minha vida acadêmica. Agora, dia 13 de novembro de 2012, dou mais um grande passo rumo à minha formação no Curso Licenciatura em Teatro, da Universidade Federal do Maranhão.
Escolhi carinhosamente “Diário de Bordo” como título para o relato das atividades que serão realizadas na disciplina Prática de Criação Dramática, pelo fato de, no meu primeiro ano do ensino médio, ao fazer parte de um grupo de teatro no Complexo Educacional Governador Edson Lobão – CEGEL, dirigido pelo professor de teatro Anderson Pinheiro, ter sido solicitado para fazer também o relato das atividades desenvolvidas durante o processo do grupo.
Na época, montamos Hamlet-Máquina, de Heiner Muller,  com participação no Festival Maranhense de Teatro Estudantil. No registro das atividades de montagem do espetáculo, eu fui o único, de todo o grupo, que escrevi até o fim do processo o diário de bordo. Agora, na graduação, voltar a escrever, torna-se gratificante, pois estimula a percepção durante as aulas e aguça o olhar que já não é mais um olhar de um leigo, fazendo teatro, mais sim, de um estudante em processo de formação, que será um futuro teatro-educador.
Desta forma, percebo esse compromisso com o projeto educativo como sendo um competente trabalho do futuro docente que surge desde cedo, nesses primeiros períodos da graduação. Afinal, essa ação educativa em arte com crianças e adolescentes, exige do professor entrelaçar a sua práxis artística e estética a consistentes propostas pedagógicas. Esta é uma das intenções da disciplina que observei logo no início da apresentação da professora Gisele Vasconcelos.
A partir dai, já faço um paralelo com o que nos relatam Ferraz e Fusari (1999) que, em síntese, dizem que é preciso saber arte e saber ser professor de arte junto a crianças e adolescentes, formando-os como futuros cidadãos críticos e emancipados capazes de mudar a realidade que os cercam. Acredito que esta disciplina será fundamental para nossa formação, pois nos embasará de teoria e prática para o exercício de nosso ofício, com referência ao que Ferraz e Fusari cita em relação ao ensino-aprendizagem em arte.
Esse segundo período iniciou-se com grande expectava não só por mim, mas creio que por grande parte da turma. A disciplina Prática de Criação Dramática, ministrada pela professora doutoranda Gisele Vasconcelos, iniciou-se pontualmente as 07h30, no Teatro de Bolso Nerine Lobão, no CCH, UFMA. Gisele iniciou falando um pouco sobre o que estudaríamos na disciplina, depois justificou por não ter levado a ementa com o cronograma das atividades, pelo fato de ter sentido a necessidade de fazer alterações no conteúdo, relatando que entregaria na próxima semana.
Os alunos foram chegando aos poucos, grande parte da turma mora distante, fato que dificulta a chegada no horário previsto, o que me preocupa muito, pois a partir de hoje estamos em processo, numa disciplina que pelo que já pude observar, exige do coletivo, do trabalho em grupo. Mas, percebo e reconheço o esforço de cada um, em especial das ex-grávidas, apelido que demos a Stephanie e Clarice, que persistem mesmo com toda dificuldade.
Gisele pediu que ficássemos em círculo, em pé, para iniciarmos o exercício. Iniciou cantando “eu vim de lá, eu vim lá [...]” e pediu que ao seu comando fizéssemos movimentos solicitados, a saber: lento, rápido, devagar, bem miudinho. Seguindo o som da música entoada agora por todos, nos vimos envolvidos pelo exercício e já percebo o quanto essa cadeira será importante para nossa turma, para nos unirmos enquanto grupo.
Depois a professora deu uma folha de papel A4, que foi divida em duas metades, para que escrevêssemos numa parte o nome que gostamos de ser chamados e na outra, uma estrofe de uma música que tivesse um significado importante para nós. Eu escrevi que gosto de ser chamado de Nando, e a letra da música foi “você bem sabe, que eu não lhe prometi um mar de rosas. Nem sempre o sol brilha também há dias em que a chuva cai [...]”, a música chama-se Mar de rosas, dos The Fevers.
A música faz parte da nossa vida, mas tem algumas músicas mais que outras que nos trazem recordações agradáveis, é o caso de Mar de rosas, pois me lembra de minha falecida mãe. Lembro-me dela sempre cantarolando essa música no quintal da minha casa, e a proposta desse exercício me trouxe uma sensação nostálgica.
Foi a partir desse passaporte, como a professora chamou a metade da folha de A4 que nos fora dada, que agora continha um significado importante para nós, que iniciamos nossa viagem por novas propostas de experimentos cênicos. Ao som de uma música popular, jogamos de acordo com as variações propostas pela mestra, onde o objetivo era trocar os passaportes com os colegas, e depois chamar o nome do dono que estava no passaporte que acabávamos de receber.
Após algumas variações desse experimento, em círculo, cantamos a estrofe da música, que estava escrita no verso do papel, como última etapa do jogo, para que o dono se manifestasse e encontrasse seu passaporte através do reconhecimento da canção. Esse momento foi muito descontraído e divertido, pois dava para perceber nos olhos de cada um, lembranças significativas de suas vidas.
Logo em seguida, ainda em circulo mais agora sentados, iniciamos o jogo tradicional “Escravos de Jó”. Existem algumas propostas de se jogar os escravos de Jó, Gisele optou por utilizar sapatos onde cada um passava seu sapato para o outro no decorrer da música. Houveram três variações do jogo, a saber: cantado, somente com lá, lá e mudo, onde o grupo, aos poucos, foi buscando a concentração e a disponibilidade para jogar com o foco nos sapatos e consequentemente na música para realizar sincronizadamente o jogo proposto.
Por fim, ainda com os seus sapatos em mãos, cada um falou por onde seu sapato passou até chegar a UFMA, destaco nessa etapa o discurso de Lígia que me tocou, pela sinceridade e perseverança de vir de tão distante para conquistar seus sonhos aqui em terras ludovicenses.
Pelo fato da professora ter que participar de uma banca de monografia, não pode continuar a aula, passando assim um trabalho em grupo. Tínhamos que desenhar/descrever numa cartolina uma narrativa, contendo; tempo, espaço e personagens. Fizemos até o final do horário, só que em outro espaço, pelo fato do Teatro de Bolso ter sido disponibilizado para outra turma.
A partir daqui, 14 de novembro de 2012, definirei as aulas fazendo jus ao nome que propus para esse protocolo; diário de bordo. Dessa forma, hoje iniciou-se nossa viagem pela prática de criação dramática no segundo horário, logo após a disciplina de Pazzini. Fomos para a Sala de Jogos, onde Gisele comentou que já iria deixar o primeiro texto para a próxima aula na Xerox de teatro, em seguida relatou sobre encenações do norte-americano Bob Wilson.
A importância de ter um professor preocupado com o processo de ensino-aprendizagem do discente é louvável num curso cuja formação almeja futuros teatro-educadores. Fato observado no discurso de Gisele, quando esta comentou que na aula anterior havia citado Bob Wilson, e depois lembrou que nós estamos iniciando o segundo período e que ainda não sabíamos a respeito do encenador citado. Desta forma, contextualizou o assunto e logo após assistimos uma cena do trabalho de Wilson no tablet de Clarice, onde percebemos algumas características explanadas pela professora, a exemplo da perfeição no espetáculo do encenador. O perfeccionismo na produção dele é fato visível na caracterização, na iluminação, bem como nas entradas e saídas dos atores em cena.
Gisele nos falou sobre o jogo dramático e o jogo teatral, ressaltando a importância de cada um. Sobre o jogo dramático e o jogo teatral, de Viola Spolin, Japiassu (2001) diferencia relatando que a abordagem anglo-saxônica do drama destaca exclusivamente os aspectos instrumentais da educação dramática, ao passo que o sistema de jogos teatrais de Viola Spolin, sem prejuízo de sua eventual utilização instrumental, permite sobretudo reivindicar o espaço do teatro como conteúdo relevante em si na formação do educando.
Logo em seguida a professora nos disse que iríamos dar continuidade ao trabalho iniciado na aula anterior. Falou também que uma das intenções da disciplina Prática de Criação Dramática é criar um trabalho/cena a partir de um jogo tradicional.
Partindo do jogo “Escravos de Jó” realizado na aula anterior, iniciamos, hoje, com a divisão da turma em quatro grupos, onde os mesmos teriam que realizar uma cena, tendo como base esse jogo tradicional, só que agora seguindo as regras estabelecidas pela mestra, a saber: a narrativa, o tempo, o movimento e coro.
Após a divisão dos grupos, os mesmos se organizaram para criar as cenas, utilizando o tempo de 25min. estabelecido pela professora. Depois desse processo de criação, iniciamos as apresentações.
O primeiro grupo integrava Ligia, Brenda, Josemar e Necylia, eles deveriam compor a cena, utilizando o tempo a partir da relação com o jogo os escravos de Jó. Apresentaram a cena, primeiro sem música e depois a pedido da professora realizaram mais duas vezes com música.
O segundo grupo, composto por Marcelo, Arisson, Márcia, Clarice e Vinicius realizaram a apresentação utilizando o coro dentro do jogo os Escravos de Jó.
O terceiro apresentou a cena, partindo do movimento para realizar o experimento. O grupo tinha como integrantes Stephanie, Heidy, Tiago, Tiara, e Will.
O quarto e último grupo, composto por mim, Carla, Tieta e Jeane partimos da proposta de, através da narrativa, desenvolver a cena. No início foi bem difícil, pois não vinha nenhuma ideia interessante, foi então que sugeri ao grupo que fossemos lá fora para observar o espaço, e a partir dele realizar a construção da cena.
Lá em baixo, no jardim/praça organizamos a construção dos quadros, seguindo a letra da música. Em cima das mesas, exploramos o primeiro quadro fazendo analogia com o trabalho dos escravos, depois partimos da brincadeira para dar continuidade à cena.
No quadro seguinte foi à brincadeira de “tirar e botar”, proposto na letra da música que nos inspirou para compor a cena, onde corremos saindo de cima de uma mesa para outra.
No terceiro quadro, o ziguezague foi explorado quando ficamos na frente um do outro, tendo o poste como elemento de divisão da cena. Brincamos de fazer ziguezague, finalizando com o movimento de socar. Por fim, corremos como se fossemos crianças brincando de pique-esconde, buscando um lugar para se esconder.
Durante a realização do experimento, o riso surgiu na cena espontaneamente. Viola Spolin (2008) cita que é durante o jogo teatral que as habilidades são desenvolvidas no próprio momento em que a pessoa esta jogando, divertindo-se ao máximo e recebendo toda a estimulação que o jogo tem para oferecer, este é o exato momento em que ela está verdadeiramente aberta para recebê-las. Foi exatamente o que sentimos quando rimos espontaneamente na apresentação.
Depois em círculo finalizamos fazendo as avaliações dos grupos. Em seguida, Gisele propôs que todos repetissem a apresentação de um grupo, o mais simples de preferência. Repetimos a apresentação do primeiro grupo.
Erramos, adaptamos, e repetimos até realizarmos uma cena em grupo, toda a classe. Por fim, refizemos a mesma coreografia, só que agora individualmente. Os alunos iam livremente até o meio da sala e realizavam coreografias utilizando outros elementos criativos.
Eu aproveitei a deixa da narrativa e construí uma cena onde dentro dos movimentos propostos introduzi a narrativa do cotidiano, e ao som do tic-tac eu interpretei o levantar cedo, se vestir, escovar os dentes, arrumar o cabelo e sair apressadamente para encontrar... O trânsito.
Já era quase meio dia, quando nos despedimos, finalizando a aula. Uma aula muito criativa e proveitosa. Um ponto positivo foi ver a turma unida trabalhando em prol do teatro, sem coleguismos.

20 de novembro de 2012, cheguei alguns minutos atrasado na aula de hoje, perdi o Sá Viana (não pego “caospus lotado” porque a aula começa muito cedo e o ônibus 305 não passa no horário que devo pegá-lo), e a professora já estava na sala.
Gisele iniciou a viagem propondo que ficássemos em círculo para iniciarmos a aula com um jogo de aquecimento, cujas instruções eram assim: quando quiséssemos direcionar o foco do jogo em alguém próximo da gente, tínhamos que fazer o gesto de atrito com as duas mãos em direção ao colega/jogador, dizendo a palavra “zip”, quando fizéssemos o mesmo atrito só que agora na direção de um colega/jogador em outra direção que não fosse a próxima da gente, teríamos que dizer “zap” e por fim quando recebêssemos o foco do jogo e quiséssemos devolver teríamos que dizer “boingue”, fazendo o movimento de “onda” com o corpo.
Dadas às instruções iniciamos o jogo, logo no inicio eu e outras pessoas tivemos dificuldades, o que fez com que Gisele diminuísse a quantidade de jogadores para que pudéssemos assimilar o jogo. Experimentamos e fomos jogar com toda a turma, depois de exercitarmos algumas vezes, a professora deu um adendo relatando que a partir desse jogo tradicional poderíamos fazer inúmeras variações e criações dramáticas, propostas que a disciplina possibilita.
Ryngaert (2009) discorre sobre o procedimento da utilização do não-verbal para a construção da cena, citando que assim o jogador é estimulado a abandonar seus estereótipos para ir ao encontro desse universo artístico que ele apreende pelo viés de sua materialidade e por tentativas de transposição que lhe constituem lições de estética.
Depois fizemos outro jogo, pai Francisco entrou na roda e, antes de iniciarmos o jogo, Gisele dividiu a turma pelo espaço. Para que adquiríssemos a malemolência que a personagem do Francisco exigia no jogo, a professora pôs uma música lenta, onde tínhamos que experimentar vários movimentos gesticulando o corpo lentamente, rapidamente e em círculo exercitamos no jogo o que havíamos experimentado sozinhos.
O jogo começa assim: em círculo cantávamos a música “[...] pai Francisco entrou na roda... Vem de lá seu delegado [...]” em seguida entrava um jogador interpretando o pai Francisco, depois entra outro jogador interpretando o delegado. O jogador que estava interpretando o delegado tinha que prender Francisco segundo o enredo da música e o outro jogador, pai Francisco, deveria ficar "malemolengo" e não deixar o delegado lhe prender. 
Infelizmente logo após esse jogo eu, Lígia, Brenda, Tiago, Marcelo e Carla saímos, pois iriamos apresentar o “Negro Cosme” no SESC.
Nossa viagem hoje, 27 de novembro de 2012, iniciou pelas brincadeiras infantis e pelas cantigas de roda com versinhos. Mas antes em círculo, Gisele pediu que começássemos a “pisar” com várias partes dos pés, articulando essa parte do corpo que sustenta todo nosso peso.
Depois ainda em círculo, montamos uma ciranda e cantamos versinhos, como: “[...] eu morava na areia... me mudei para o sertão, sereia... aprendi a namorar, sereia... com um aperto de mão [...]”. Experimentamos criar outros versos partindo da partitura da música que estávamos ouvindo e cantando. Logo em seguida a professora dividiu a sala em quatro grupos de quatro pessoas e disse que agora partiríamos de uma nova brincadeira escolhida pelo grupo, para realizar uma criação dramatúrgica a partir dessa brincadeira tradicional. Onde um seria o organizador e os demais os jogadores como propõe Jean-Pierre Ryngaert (2009).
Gisele deu pouco mais que 1h para realizarmos o procedimento criativo e apresentarmos o exercício para a turma. Passado o tempo proposto, iniciamos as apresentações, com o grupo que tinha como integrantes Tieta, Arisson, Jeany e Vinicius, que improvisaram a cena a partir da brincadeira “pirulito, que bate, bate, pirulito que já bateu [...]”.
O segundo grupo composto por Carla, Clarice, Tiago e Tiara criaram a cena a partir da brincadeira “[...] o anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou”.
Já o terceiro grupo, composto por Brenda, Lígia, Heidy e Necylia montaram uma cena a partir da brincadeira “lagarta pintada quem foi que te pintou, foi à velha cachimbeira por aqui passou [...]”.
Por fim o grupo composto por mim, Marcelo, Márcia e Josemar montamos a criação dramatúrgica partindo da brincadeira de “amarelinha” ou também, popularmente conhecida por “cancão”. Partimos da partitura do jogar a pedrinha nos retângulo/quadrados até chegar ao céu, característica desse jogo, para realizarmos nossa cena.
 Pensamos na escada, como espaço cênico, onde na brincadeira de “subir brincando” utilizamos a mesma estrutura de pisar com um pé no quadrado e pisar com dois pés no retângulo, utilizado na amarelinha, aliado aos movimentos proposto por Laban (lento/pesado, leve e rápido) e assim, construímos a cena.
Em seguida, sentamos em círculo para comentar/relacionar o exercício com o texto de Jean Pierre Ryngaert.

Nossa viagem de hoje, 11 de dezembro de 2012, pelo universo que compõe a prática de criação dramática terá como ponto de partida a narrativa, ou seja, o roteiro da improvisação, que Ryngaert (2009) define assim:
A invenção do roteiro o mais das vezes consiste em estabelecer de modo superficial uma “história” ou um “esquete”, com todas as consequências ligadas a narrativas simplistas, construídas em função de artifícios dramáticos tradicionais. (Ryngaert, 2009, p. 115).
Essa foi à proposta da aula de hoje sugerida pela mestra, ao finalizar a primeira unidade da disciplina. Mas, antes de aprofundar sobre a narrativa no desenrolar do processo criativo, vou me ater ao inicio da aula, nos exercícios de aquecimentos.
Os aquecimentos removem quaisquer distrações exteriores que os jogadores possam trazer consigo. Eles fazem o sangue circular, e unem o grupo ou a turma a superar as diferenças pessoais. (SPOLIN, 1999, p. 17 apud MARTINS, 2004, p. 45).
Após exercitarmos alguns jogos na prática, partimos para a teoria, onde fomos entender um pouco mais sobre a estrutura do sistema de jogos teatrais de Viola Spolin.
 Em círculo Gisele propôs que todos tirassem uma fichinha do livro O fichário de Viola Spolin, que contém a seguinte estrutura: o nome do jogo, a preparação (se esse jogo requer uma preparação especifica antes, um “aquecimento”, jogo introdutório, ou é continuidade de outro jogo), foco (o ponto de concentração que o jogador deverá ter no jogo), descrição (como o jogo deverá se desenvolver), instruções (instrução dada pelo encenador/professor durante a realização do jogo, forma de guiar a concentração do jogador no foco), avaliação (opcional, nem todo jogo requer avaliação, por isso ficará a critério do professor), notas (opcional, somente quando necessário igual à nota de rodapé).
Esse sistema de jogos teatrais foi criado no contexto da vanguarda teatral americana, a partir do final da década de 1950 pela encenadora e educadora Viola Spolin. Desde então serve como recurso metodológico para diretores amadores e/ou profissionais e professores no ensino de teatro com crianças, adolescentes e adultos dentro e fora das instituições oficiais. (MARTINS, 2004, p. 49).
Dessa forma, o jogo teatral de Spolin trata-se de uma improvisação de caráter lúdico que enfatiza não um tema, a comunicação de uma mensagem ou a ilustração de um texto, mas sim os elementos que constituem a própria linguagem teatral. Pois a princípios visava resolver problemas de encenação de textos dramáticos. Possui como ponto de partida o papel ou personagem (Quem), a ação (Quê) e o espaço (Onde) e têm como objeto o Foco. (MARTINS, 2004, p. 49).
Logo em seguida Gisele dividiu a turma em quatro grupos, entregou aleatoriamente as cartolinas que continham histórias, histórias essas criadas em grupo no primeiro dia de aula. Foi a partir dessas narrativas que desenvolvemos a primeira atividade proposta por ela.
Gisele propôs que os grupos identificassem nas suas histórias o lugar, a situação e a personagem. O meu grupo além de mim, tinha Carla, Tieta e Clarice. Nossa história era de um homem solitário e despido, que num apartamento revivia seu momento nostálgico lembrando-se de seus amores e bêbedo uísque barato.
Sobre o uso de roteiro no processo criativo Jean-Pierre Ryngaert (2009) comenta que o uso de roteiro depende dos objetivos do professor, e que geralmente o uso desse recurso metodológico visa o treinamento do domínio da criação pelos alunos, de um ponto de partida para aflorar a criação artística, o que felizmente ou infelizmente já satisfaz o professor de imediato.
Partimos do enredo dessas histórias, ou seja, partimos da narrativa que cada grupo havia ficado para criar ações/cenas que já havíamos definido, partindo do “se”. O “se” proposto anteriormente por Gisele, é o que sugere Stanislaviski que a partir desse “se” imaginemos outros possíveis desfechos para a história.
Partindo da narrativa do “se”, foram solicitados três movimentos que fizesse analogia a situação do desfecho do enredo. No meu caso, acabei extrapolando os três movimentos e as ações ficaram assim: caindo no chão, lendo cartas, joga-as no chão, em pé atendendo um telefone, andando em direção a janela, abrindo-a, olhando pela janela o lado de fora e se jogando.
A turma e a professora não sabiam exatamente dessa história que inventei para essas cenas, mas percebi depois que não era o objetivo do jogo todos saberem do que havia criado. Ficou claro depois quando fui solicitado em continuar na cena e todos me observassem, onde executei minha partitura de ações/cenas, e em seguida o Arison entrou no jogo para a partir das minhas ações criar uma narrativa.
Aos poucos todos foram jogando, de acordo com outras variações da narrativa. No final da aula Gisele pediu que no próximo encontro todos levassem seus protocolos, pois os mesmo serão utilizados como parte da avaliação da primeira unidade da disciplina.
Finalizo essa viagem citando dois textos bem interessantes sugeridos como leituras pela professora, o primeiro é o da Anne Ubersfeld, Para ler teatro, que trata da semiologia no texto e na representação cujo tema me interessa bastante e quero explorar mais.
 Já o outro livro é do Bulhões, Encenação em jogo, que fiquei apaixonado e já quero ler todo, porque é encantador! Sobre o encenador, Martins (2004, p. 42) cita que cabe “ao coordenador descartar as soluções fáceis e desvendar crises que promovam novas descobertas, sem receio de reconhecer que nem sempre conhece a solução dos problemas que surgem”. Dessa forma, o “encenador deve utilizar os mais variados estímulos, provocando a multiplicidade de pontos de vistas, estimulando novas experiências e a atitude de pesquisa dos participantes”.

Referências
FERRAZ, Maria Heloísa Corrêa de Toledo; FUSARI, Maria F. de Rezende e.  Metodologia do ensino de arte. São Paulo: Cortez, 1999. – 2ª ed.

JAPIASSU, Ricardo Ottoni Vaz. Metodologia do ensino do teatro. 3ª ed. Campinas. Ed. Papirus, 2001.

RYNGAERT, Jean-Pierre. Jogar, representar: prática dramática e formação. Ed. São Paulo, 2009.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. 5ª ed. São Paulo. Ed. Perspectiva, 2008.

SOUTH, Joe. (versão: Rosssini Pinto). Mar de Rosas. Disponivel em < http://letras.mus.br/the-fevers/119995/ >. Acesso em 13 de novembro de 2012.

MARTINS, Marcos Bulhões. Encenação em jogo: experimento de aprendizagem e criação do teatro. Ed. São Paulo, 2004.

Movimento Criativo


                                                                                                                                     por Brenda Oliveira

 Mergulhada numa ideia, a Prof. Mestra Gisele deu iniciou aos processos de criação baseada na metodologia de Jean Pierre Ryngaert que acredita que:  “A maneira de começar (qualquer oficina/ processo) é tão importante que não se pode resolver a questão por uma entrada uniforme, válida para todas as situações.”, inspirado  neste pensamento, começamos com um jogo de apresentação, fora dos “padrões”, ou seja, com comandos dados no decorrer do jogo, ao qual foi nomeado de: “Passaporte”. Uma proposta de apresentação baseada nas impressões de Ryngaert, que propunha uma apresentação mais descontraída e que se desenvolvesse “naturalmente”, ou seja, sendo imperceptível a ideia imediata de apresentação, não sendo proposta de forma verbal sistemática. Formulamos esta, onde os alunos do segundo período do curso de teatro-licenciatura, deviam colocar seus nomes e no verso um trecho de uma música da qual os fizessem lembrar um momento importante de suas vidas.
Essa ideia de fazer jogos e utilizar das experiências das pessoas é algo muito utilizado por Viola Spolin, pois é dentro de um pensamento livre a respeito dos jogos e da improvisação teatral que Spolin cria um meio prático e eficaz, a respeito de como iniciar um momento de integração e processamento da espontaneidade, pois é uma prioridade nesse parâmetro:

Através da espontaneidade somos re-formados em nós mesmos. A espontaneidade cria uma exploração que por um momento nos liberta de quadros de referência estáticos, da memória sufocada por velhos fatos e informações, de teorias não digeridas e técnicas que são na realidade descobertas de outros. A espontaneidade é um momento de liberdade pessoal quando estamos frente a frente com a realidade e a vemos, exploramos e agimos em conformidade com ela. (SPOLIN, p. 5)

Após todos terem posto os seus nomes e trechos de músicas, os passaportes foram trocados e lidos por outros alunos. Tudo foi feito como uma chamada para um voo. Usando diversas formas: gritando, sussurrando, pulando, etc. até que os donos dos passaportes voltassem a tê-los em mãos. Essa dinâmica de troca gerou uma descontração e confiança através do olhar entre os discentes.
No fim, com os passaportes trocados, cada aluno, propondo-se à sugestão da Mestra, cantou o trecho/toda a música escrita pelo colega de turma, isso se a conhecesse, mas se não, não haveria problemas, pois poderiam inventar uma melodia, com isso era identificado o dono do passaporte. E de uma forma descontraída, espontânea obtivemos um resultado de sintonia, ordem, respeito e o próprio conhecimento entre os mesmos.
Fomos aos poucos tentando entender o que pensa e põe para a prática de Ryngaert, quando ele coloca esta para a criação a partir de textos não dramatúrgicos, por exemplo: jornais, poemas, cantigas de roda, brincadeiras populares, depoimentos pessoais, memórias, entre outros.
A mestra pediu que os discentes trouxessem versos, para que fossem lidos e daí extraído algo supostamente dramático e oportuno para uma criação. Essa maneira de processo criativo deu aos discentes possibilidades de criação livre, já que o próprio Jean Ryngaert diz: “Não recuso o trabalho feito a partir de um roteiro, mas acho que devemos ser ambiciosos, questionando todas as produções.”. Essa metodologia permitiu a todos os acadêmicos do segundo período do curso de licenciatura em teatro, que se entregassem as improvisações em cima destes elementos não dramatúrgicos, possibilitando assim, uma gama de maneiras de expor, em muitas das vezes, o mesmo verso, texto, cantiga de roda, através de uma cena dramática que explorasse as técnicas de movimento de Laban, não apenas no corpo, mas transpassando-o para a própria voz.
Todos esses jogos e propostas de improvisação teatral devem ter um foco, sentido, que será o alimento para uma criação dramática futura. Como bem expõe Ryngaert: “Uma tentativa de levar em consideração separadamente o jogo e o sentido com a esperança de alguma exatidão está fadada ao fracasso, uma vez que há um embate incessante entre formas e conteúdos.” (RYNGAERT, p.2009.).

É por isso, que a Mestra sempre propôs jogos que mantinham uma linearidade, em relação aos processos seguintes. Após cada criação, os discentes permitiam a exposição da opinião dos demais, a respeito da sua “cena”, citando três palavras: gosto/não gosto, critico e proponho, assim conseguiam obter resultados, nas seleções dos trabalhos, mais objetivo e democrático, sendo que os primeiros a começarem a avaliação das cenas, devem ser sempre os componentes do grupo apresentado. Essas ideias podem ser expostas oralmente ou escrito (fichas). Todo o processo pode ser guardado em forma de protocolos, para futuramente podermos utilizar, adaptando as técnicas, um dia utilizadas.
No fim desse pequeno processo-prático de criação dramática, os discentes conseguiram obter ideias e, um outro olhar, sobre o que pode vir, ou o que é a arte, o teatro, a dança. Tudo isso fez com que o quiproquó de suas mentes fosse cessado e inaugurado um novo meio de se criar no teatro. Nos momentos que davam inicio as práticas de registros em texto (protocolos) e em vídeos foram feitos, levando em conta que: “É paradoxal considerar a reprise de uma improvisação, refazer um ato que se define em geral pela invenção e pela novidade. No entanto, o sentido se trabalha.”. “[...] O processo à criação não é fornecido a todos automaticamente. Mas o criador não chega armado à obra.” (RYNGAERT,2009.p 221)

Contudo, fomentemos em nós a importância de um processo prático de criação para todas as montagens, espetáculos, mostras, que estarão por vir.

Referências
VIOLA, Spolin. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva.
RYNGAERT, Jean Pierre. Jogar, representar: práticas dramáticas e formação. São Paulo: Cosac Naify.2009


Sim! Para começar!


Por: Necylia Monteiro
Era nosso primeiro dia de aula de verdade, pelo menos pra mim o desafio começava com chegar a universidade as sete e trinta da manhã, consegui chegar as sete e trinta e um e a professora Gisele já estava na sala, nossa caixa de sensações a partir de agora, afinal todos os ambientes tem formato de caixa, ela falava sobre a disciplina, olhando para cada um nós, nos apresentou livros, e falando que ficaremos juntos 90 horas e outras coisas mais...
Logo em seguida começamos... Sim! O começo todo mundo sempre espera pelo começo pra ver até onde pode ir, pra imaginar o que vem por ai, e o quanto poderá aprender, mas é claro que nunca advínhamos...
“É mais ou menos admitido que uma boa oficina começa por uma boa preparação, um aquecimento corporal, jogos de comunicação...Na verdade, o que eu questionava e que continua a me preocupar é a maneira como essas atividades se definem e como são recebidas pelos participantes.”(RYNGAERT,2009, p. 77)
Nessa parte, todos somos meros corpos esperando que algo aconteça, e de acordo com Pierre (2009) se prevê dificuldade quando não se conhece o grupo, a caixa (a sala), e quando não se está sensível a atmosfera do grupo, e do momento. Fala também da necessidade de se ganhar segurança. Em nossa turma, a professora Gisele propôs um jogo de apresentação, ele envolvia nossos nomes, músicas, ritmos diferentes, passos diferentes, e era exatamente isso que somos, todos diferentes. De início, (primordialmente e imaturamente) pensei: Jogo de apresentação??? Mas já nos conhecemos a mais de seis meses!
Mas...
Será que nos conhecíamos mesmo? Conhecíamos aquele espaço? Já conhecíamos a nossa instrutora? (saber seu humor predominante, seu jeito de trabalhar e dialogar, seus métodos de avaliação...). Foi quando percebi a nova situação a que o jogo nos propunha, no “passaporte” deveria conter o nome que gostávamos de ser chamados e nossas músicas, ou melhor nossa música, (que para mim foi bem complicado decidir uma música só, sem pensar três vezes a primeiro que veio a cabeça) que mudava completamente o caráter do termo apresentação. Assim Ryngaert discorre:
“Preocupado em evitar formalização, não proponho apresentações sucessivas acompanhadas de verbalização sistemática. Mas provoco situações em que cada um encontra ocasião para realizar um ato individual simples dizendo (jogando) alguma coisa que equivale a uma apresentação, isto é, a afirmar que se está presente, e bem presente...” (RYNGAERT, 2009, p.80)
E assim o “passaporte do Eu”, como resolvi chamar o jogo prosseguiu, a partir de agora estaríamos numa viagem, e na confusão do aeroporto trocamos nossos passaportes uns com os outros, numa embaralhada só, o problema agora era encontrá-lo. “Chamem o dono do passaporte com raiva!”, “levem dançando lentamente...”, “chamem com carinho!’, “ entreguem em plano baixo”... e tantas outras propostas, no final éramos uma roda dentro da caixa, os passaportes ainda perdidos, desta vez tínhamos que cantar a música que outro havia escolhido até ele reconhecer e cantar junto, dentro da roda. Achei essa parte bastante interessante pois, por diversas vezes, as músicas nos traduzem, falam por nós e denunciam nosso jeito.
Muitos de nós relembraram a infância, lugar onde nasceu, ou alguém especial, daí toda importância da escolha dessa música, haviam algumas que ao serem cantadas, já percebia-se a quem se referia. São aqueles momentos em que se diz: “Essa música é a tua cara!” 
Escolhi a música O outro (Figura1) na verdade ela é um pequeno poema de Mário de Sá Carneiro, musicado por Adriana Calcanhoto, lembro bem da minha mãe cantando em diversas situações, nas quais eu parava tudo para ouvi-la. E como é uma música pouco conhecida, imaginei que meu colega não saberia cantá-la.
Figura 1 Passaporte do Eu
“Eu não sou eu, nem sou outro, sou qualquer coisa de intermédio, e lá na ponte de tédio, que vai de mim para o outro.”
Passaportes entregues, hora de passar para o próximo jogo, Escravos de Jó.
Quando Gisele pediu que pegássemos um lado de nossos sapatos,(figura 2) sentássemos em roda, fiquei bastante curiosa pelo que estava por vir, nossa professora parecia ter um certo cuidado, misturado com prazer e carinho ao explicar cada coisa pra gente, e logo que ela terminou de explicar sobre o Jogo Escravos de Jó, eu entendi com clareza os objetivos da primeira unidade, Práticas de Criações Dramáticas a partir de jogos tradicionais.
Figura 2 Meus sapatos!
Escravos de Jó, jogavam cachangá, tira, bota, deixa ficar, guerreiros com guerreiros fazem zig, zig, zá, guerreiros com guerreiros fazem zig, zig, zá!
Mexíamos nossos sapatos conforme a música, onde os sapatos passavam por todos! Depois o desafio ela cantar murmurando, até aí foi fácil, relativamente, a dificuldade veio mesmo quando ocultamos a música, havia apenas o som dos sapatos batendo no chão, o objetivo era estarmos conectados entre si e ao ritmo da música! Após algumas tentativas, conseguimos!!
Ainda em roda, pra finalizar nossas apresentações: Por onde meus sapatos andaram... Todos falaram por onde andamos até chegar ali, ali em todos os sentidos da palavra, ali universidade, ali teatro de bolso, ali artes, ali vida. Foi significativo e de grande importância ouvir a trajetória dos meus colegas, uns falavam de engarrafamento, outros os que faziam antes do teatro, uns da infância, outros de lugares mesmo, eu falei das cores do meu sapato, que naquele dia estavam azuis, que pra muitos é uma cor que representa tristeza, ou para outros a alegria, como um céu azul de terça, pra mim é tudo isso, acredito que o valor das cores cada um que atribui, tanto que tenho sapatos de muitas cores, e vivo mudando eles de cor, e a vida é mesmo assim, vive mudando, de planos, de cores, de sabores...
Nossa turma parecia estar toda ali, com novas expectativas, novas esperanças de novos conhecimentos, tudo novo de novo!, até aprecia primeiro dia de aula, apesar de todos os pesares, dos atrasos, da timidez, dos conflitos, das barreiras que o aprendizado trás, estávamos todos ali, começando outra vez. Como diz Pierre (2009) “Começar sem brutalidade”:
Começar sem brutalidade, o mais próximo da situação real [...] Hoje talvez a timidez, a ausência um pouco dolorosa daqueles que escolheram estar aqui e, no entanto, não dão mais a impressão de querer isso. Jogamos pra dominar essa sala fria e nos dominar desapareendo na sala, dissolvendo as trinta presenças entre esses muros pouco acolhedores. (RYNGAERT,2009. p. 83).

REFERÊNCIAS

RYNGAERT, Jean Pierre. Jogar,representar: práticas dramáticas e formação. São Paulo. Ed.Cosac Naify, 2009.







EXERCÍCIO DE AQUECIMENTO

A forma de começar qualquer atividade teatral, espera-se uma preparação do corpo ou aquecimento, para qualquer apresentação ou oficinas, assim como o ator tem que se sentir no palco, também nós como alunos do curso de teatro, precisamos se desprender das coisas lá de fora, e se concentrar nas atividades da sala de aula. Um ponto importante no início da aula de hoje (20/11/12), foi o aquecimento , onde observamos que a atenção é primordial para entender o jogo e a cooperação desenvolve a comunicação entre todos os alunos. O importante no aquecimento é saber reconhecer o espaço em que cada aluno se encontra, usar o espaço, brincar neste espaço, e saber quem está neste espaço. Então como diz Jean-Pierre (2009. p.78) que "um grupo que não se conhece, não sabe nada sobre as atividades que o esperam, naturalmente tem necessidade de ganhar segurança".
Então, por isso é bom, para qualquer atividade teatral, ter um exercício de aquecimento corporal, para prepararmos todo nosso corpo, como exemplo, nossa respiração, ouvido, olhar e movimentos.
Vale observar que o cuidado com as pessoas que participam é importante, pois nem todas estão em condições físicas e adequadas para alguns movimentos feito pelo orientador, mais isso não significa que eles não possam participar, mais adequá-las conforme suas dificuldades físicas.
Outro ponto importante é a finalidade do exercício, pois tem que ser focado no que iremos fazer em sala de aula, não simplesmente fazer por fazer um exercício, mais o objetivo pelo qual iremos trabalhar para dar sentido ao que o orientador nos propõe.


Escrito por : Josemar Costa.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Superação: Novas propostas baseadas numa velha proposta


Por Tiara Sousa

Eu nunca havia brincado de Escravo de Jó, alguns jogos Teatrais ainda me causam temor, o que de fato impõe a mim romper bloqueios que já são tão familiares, mas que infelizmente ainda ando procurando meios de superá-los. E durante esses meus 27 anos de vida, eu tenho tentado superar a timidez, a introversão, a introspecção, o medo do olhar do outro. Eu procurei essa superação nos lugares pelos quais passei, no olhar dos meus amigos, na proteção da minha família, nas experiências boas e ruins, mas os meus bloqueios ainda estavam lá, tão íntimos e intrometidos e eu ainda não sabia como lhe dar com eles.
Mas eu estou cursando Teatro e vivenciando o impasse do amor pela arte e do medo da exposição. Logo na primeira aula da disciplina Prática de Criação Dramática nos foi proposto um jogo denominado Passaporte, em que teríamos que escrever num pedaço de papel um trecho de uma canção que significasse algo para nós e o nosso nome no verso. Foi então que escrevi o trecho da música João e Maria, de autoria de Chico Buarque:
“Agora eu era o rei, era o bedel e era também juiz. E pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz”. (HOLANDA, Chico Buarque, 1977)
E no decorrer da aula, dos jogos passaporte e escravo de Jó, onde eu inicialmente me sentia obrigada a vencer a timidez e participar, tive a agradável surpresa de finalmente encontrar a infância na seriedade leve do aprendizado daquela disciplina, de repente eu era uma criança, e todos os meus colegas de turma também eram, nós brincávamos de ser livres, e eu me libertava dos anseios que há muito me paralisavam. Dessa maneira, o trecho da canção que escolhi de repente foi tão coerente àquela situação, a professora Gisele propunha jogos, que de fato nos faziam esquecer do mundo lá fora e nos obrigavam a “ser felizes”. Cabe aqui a afirmação de Jean Pierre:
“Considero de grande importância, no começo, que os indivíduos tenham a ocasião de se situarem pessoalmente, de modo simples e concreto, no espaço do jogo e dentro do grupo.” (RYNGAERT, Jean Pierre. 2009. p.80)
Nas aulas seguintes a turma foi dividida em quatro equipes, que foram inspiradas a criar de acordo com o tempo, o movimento, o coro e a narrativa da canção Escravo de Jó. Embora enquanto jogadores estávamos livres para criar, tínhamos que seguir as demandas que o jogo nos propusera. Cabe aqui o trecho em que Jean Pierre afirma:
“O animador, emissor único, dá instruções incontornáveis, e provavelmente eficazes, que criam uma atmosfera tornando a pseudocomunicação quase obrigatória.” (RYNGAERT, Jean Pierre. 2009. p.79)
Refletindo sobre as instruções incontornáveis acima citadas, percebi que as propostas de tempo, movimento, coro e narrativa da professora deixavam a mim e a outros mais seguros durante a execução do jogo e a prosseguir com a leitura do texto descobri que é exatamente uma das finalidades, uma vez que o roteiro nos passa uma certa segurança, como afirma Jean Pierre:
O roteiro dá segurança para aqueles que sentem-se paralisados pela improvisação sem nenhum ponto de referencia e faz parte das propostas mínimas de ponto de partida da improvisação.” (RYNGAERT, Jean Pierre. 2009. p.115)
Após as apresentações de cada equipe, foi proposto a turma outros jogos inspirados no jogo inicial, fazendo da prática uma aplicação da teoria, pois Jean Pierre ressalta:
“A aplicação de um programa preestabelecido nem sempre é a melhor maneira de atender á demanda dos jogadores.” (RYNGAERT, Jean Pierre. 2009. p.78)
Creio que as novas propostas baseadas numa velha proposta, fazem com que as dificuldades surjam de uma maneira mais leve. Cabe aqui a afirmação de Jean Pierre:
“Assim, tento introduzir dificuldades numa sequencia aparentemente fácil, procuro logo fazer entender que as propostas solicitarão pessoas presentes.” (RYNGAERT, Jean Pierre. 2009. p.80)
Embora a solicitação que impõe pessoas presentes ainda me amedronte, ou me faça questionar a minha capacidade de estar ali, participando e contribuindo com a execução destes jogos, a maneira como a professora Gisele aplica a teoria na prática deixando “aparentemente fácil” me ajuda a continuar. Cabe aqui a fala de Jean Pierre em uma oficina:
“Hoje, talvez seja a timidez, a ausência um pouco dolorosa daqueles que escolheram estar aqui e, no entanto, não dão mais a impressão de querer isso.” (RYNGAERT, Jean Pierre. 2009)
O fato é que embora eu ainda seja tímida e o meu foco no Teatro não seja a atuação, mas sim a dramaturgia e o ensino, eu escolhi o Teatro, só que diferente do que dizem as palavras acima, eu descubro a cada aula a querer estar na mesma, transformando as barreiras da disciplina Prática da Criação Dramática na tão aclamada superação da timidez que como já afirmei, procurei nos lugares, nos olhares, na proteção, nas experiências, quando ela sempre esteve no Teatro.

Referencias:
RYNGAERT, Jean Pierre. Jogar, Representar: Práticas Dramáticas e Formação. São Paulo. Ed. Cosac Naify. 2009.
HOLANDA, Chico Buarque. João e Maria. 1977


Clarice Sales


Pratica da criação dramática 

A primeira aula de Pratica de Criação Dramática, ministrada pela  Mestre Gisele Vasconcelos, começou com um jogo chamado "o passaporte". Cada participante escreveu um trecho de uma música e o nome pelo qual gosta de ser chamado. Os passaportes foram trocados aleatoriamente e cada jogador apresentava o que estava escrito da forma que conhecia, ora cantando, ora recitando. Depois, jogamos com a música Escravo de Jó, onde todos os alunos se dispuseram em circulo e  com um sapato na mão e ao ritmo da música todos trocavam os sapatos com os jogadores ao lado.  Foi perfeito para testar a sincronização da turma. A aula foi finalizada com um trabalho em grupo onde, numa cartolina, cada grupo faria uma narrativa utilizando: Quem, Onde e O Que. O trabalho foi feito e entregue para professora no mesmo dia.

Nas duas aulas seguintes continuamos a trabalhar com o jogo Escravo de Jó, mas de forma diferente, utilizando a improvisação fizemos varias performances, eu fiquei no grupo do coro, e decidimos mudar o ritmo da música.  Fomos apresentados ao famoso Bob Wilson e pudemos ver um vídeo de umas de suas montagens no YouTube.  Nas aulas seguintes trabalhamos com os jogos : Pai Francisco e Sereia . Ambos nos fizeram desenvolver a criatividade e nossa capacidade de improvisação teatral.  Observando nosso poder de trabalhar com o aqui e o agora e com a diversidade de conhecimentos e opiniões de cada jogadores. Fizemos um pequeno relatório das aulas passadas, tomando por base o livro Jogar, Representar, de Jean-Pierre Ryngaert.

Na aula passada dia 11-12-12, jogamos com o trabalho que fora entregue á professora no primeiro dia de aula e fizemos algumas improvisações baseadas nele. A professora nos apresentou o fichário de jogos teatrais, de Viola Spolin, uma das mais importantes estudiosas de teatro educação. O Fichário possui  mais de 200 fichas codificadas e sugestões para trabalho com foco, instrução e avaliação. Jogos para alunos de todas as faixas etárias e níveis de experiência. Eu aproveitei e tirei foto da capa do fichário para possível aquisição. Amanhã dia 17/12/2012 é o dia de mostrarmos um relatório mais completo de todas as aulas. 

Ass. Clarice Sales

Aprendendo a criar


Por: TIAGO ANDRADE

         De inicio, foi feita a apresentação da ementa da disciplina, a professora nos repassou os livros que irão ser trabalhados, explicou sobre algumas questões do curso e em seguida partimos para um jogo de apresentação onde cada um escreveu em uma folha o seu nome e um trecho de uma musica (o que ela chamou de passaporte). Então, começamos a imaginar que estávamos embarcando em um avião e estávamos na fila de embarque, como cada aluno já tinha em mãos o papel do outro, começamos a chamar o nome escrito na folha ao mesmo tempo em que tentávamos encontrar o nosso passaporte. Como todo mundo chamava junto, virou uma bagunça só, o que foi bastante divertido e enquanto tentávamos encontrar nosso passaporte ainda tinha uma musica de fundo. Jean-Pierre Ryngaert afirma que:
          “Considero de grande importância, no começo, que os indivíduos tenham a ocasião de se situarem pessoalmente, de modo simples e concreto, no espaço de jogo e dentro do grupo. Para isso, proponho jogos de apresentação que tem como principal função superar o anonimato do grupo.” (RYNGAERT,2009 pág80)
       Embora eu já conhecesse todos da turma,  foi bem legal  participar deste jogo de apresentação, pois já estou cansado daquelas apresentações em que temos de falar para todos, o nosso nome, o que gostamos de fazer, quais as expectativas em relação ao curso etc. Enfim, tudo fluiu de uma maneira natural e repito: divertida.   
        Bom, no segundo dia demos continuidade com outros jogos e utilizamos algumas musicas de roda como: Escravos de Jó e pai Francisco entrou na roda, fizemos divisões de quatro grupos, onde cada grupo ficou com a seguinte divisão, a partir do Jogo Escravos de Jó:
Grupo 1
Tempo
Grupo 2
Movimento
Grupo 3
Musica
Grupo 4
Enredo

       O grupo que participei foi o 2 que tinha de executar o movimento, mesmo sendo responsável só pelo movimento, nós sentimos dificuldade, já que estávamos nos baseando pelo tempo da musica Escravos de Jó. Este jogo desencadeou uma serie de outras cenas que envolveram esses quatro elementos (tempo, movimento, musica, enredo). Durante as cenas que estávamos compondo ficou bem fácil direcionar as ações, pois nós nos baseamos pelo roteiro do jogo como Jean-Pierre trata em seu texto :
   “O roteiro dá segurança para aqueles que se sentem paralisados pela improvisação sem nenhum ponto de referência e faz parte das propostas mínimas de ponto de partida da improvisação.” (RYNGAERT, 2009, p. 115 ).
    As vezes encontro dificuldades, em alguns jogos, quando se tratam de improvisações. Não me sinto, digamos, muito a vontade no inicio, só após alguns minutos é que vou adquirindo mais liberdade dentro do processo de jogo.
    Fiquei muito impressionado como todo o processo criativo aconteceu a partir de uma musica de roda e de jogos tradicionais, a professora nos informou que ela já fez uma criação toda, utilizando apenas esses jogos. Por isso é de extrema importância protocolar todo processo para que não se perca coisas interessantes que podem futuramente virarem boas montagens e novas dramaturgias.
Referência:
RYANGAERT, Jean-pierre. Jogar, representar: Práticas dramáticas e formação. Ed: Cosac&Naif, São Paulo, 2009.

Jogando com Jó



REFERÊNCIAS:

RYNGAERT, Jean Pierre. Jogar, representar: práticas dramáticas e formação. Cosac Naify. SP, 2009.

Da provocação à liberdade criativa (Heidy Ataides)


Da provocação à liberdade criativa

Heidy Ataides

A disciplina Prática de Criação Dramática nessa primeira unidade, proporcionou a agradável ideia de um começo, meio e fim, sem truculências e imposições, instigando a criatividade e proporcionando atividade de criação considerando o ponto de partida inicial prático o jogo popular e teórico o norte que nos deu o autor Jean Pierre Ryngaert quando cita:

“...É inútil estabelecer uma hierarquia, mas podemos tentar apreender as relações que se tecem entre os procedimentos de jogo, as escolhas de indução, os exercícios preliminares, o imaginário dos jogadores e as situações imediatas do estabelecimento do jogo, as escolhas de indução, os exercícios preliminares e as situações imediatas do estabelecimento do jogo.” (RYANGAERT, Jean-Pierre. P 196)

Na condução a doutoranda Gisele Vasconcelos, após contato aquecedor com a turma, começamos um trabalho simples mas, que não saberia o quão preciosa seria a apreciação dos resultados na turma. A partir do jogo popular “Escravos de Jó” e do trabalho indutivo considerando movimento, couro, ritmo e narrativa, o imaginário criativo dos participantes foi instigado e ao ser trabalhado e com direcionamento, puderam ser percebidas e nas cenas dramáticas.

Partindo dos simples jogos populares trabalhados para o aquecimento, preparação e criação a unidade proporcionou aos jogadores inspiração para o pensamento e ações criativas, sendo essas sempre instigadas, valorizadas e ampliadas tendo como continuidade o COMANDO. Do jogo popular à representação individual e coletiva, foi marcado o fazer artístico e o seu significado, ou seja, o sentido para a recepção do público.

Finalizando este trabalho, a criação grupal e a ideia dos jogos nos deram possibilidades de estabelecer um paralelo para o trabalho em sala de aula, tendo em vista a percepção para a dinâmica e didática a ser estabelecida e apresentada a futuros jogadores, nossos alunos que se farão presentes aos nossos comandos e instigará a criatividade para as adaptações e outros pensamentos criativos que os façam ativos em salas de aula!

Referências Bibliográficas

RYANGAERT, Jean-Pierre. Jogar, representar: Práticas dramáticas e formação. Ed: COSAC, São Paulo, 2009;

SPOLIN, Viola. Improvisação para o Teatro. 5. Ed. São Paulo. Ed: Perspectiva. São Paulo, 2008;

UBRSFELD, Anne. Para ler o teatro. Ed. Perspectivs, São Paulo, 1996.