Por Tiara Sousa
Eles se habituaram a desviar
dos olhares tanto quanto buscavam por eles, a fugir dos sentimentos, a fazer
muitos planos, a ter pouco lazer e muita obrigação, a se esconderem em si
mesmos para fugir do que causava tristeza. Deixaram de olhar para o céu e de contemplar
a natureza, se acostumaram a julgar os outros e a medir palavras, a nunca pensar
no hoje com a mesma intensidade que no amanhã, a deixar de lado o que lhes era
inicialmente negado.
Eles sonhavam sozinhos, não
tinham os mesmos hábitos, nem histórias, nem haviam caminhado pelas mesmas
ruas, nem choraram as mesmas perdas, embora vivessem o mesmo tempo com a mesma
falta de tempo e usassem as mesmas palavras para divergir sobre assuntos semelhantes.
Sonhavam sozinhos, e sozinhos buscavam sentido para o que não lhes parecia
justo, sorriam para fingir que estava tudo bem e que a vida era daquele jeito
que um dia suporam que seria.
Eles não jogavam com a mesma
avidez, nem chegavam às mesmas conclusões, discordavam de quase tudo e quase sempre
se perdiam tentando encontrar características em comum. Faziam o mesmo curso (Teatro),
na mesma Universidade (UFMA), e entendiam tudo diferente, até aquele dia... Naquele
dia, Gisele Vasconcelos, a professora da disciplina de Prática da Criação Dramática,
apresentou a eles a Unidade Teatro Contemporâneo, e os conduziu a criar a
partir de contos e sonhos, "desconstruindo a ideia de dramaturgia tradicional e
de que somente textos criados orginalmente para o Teatro pudessem resultar numa
atividade teatral."
Eles foram divididos em
equipes e conduzidos a conhecer, a imaginar, a relatar seus sonhos, a exercitar
mente e corpo, criando roteiros a partir dos elementos de leituras, de
expressões corporais, de jogos, e trabalhando esses roteiros num processo de
união e extrema beleza, mas inicialmente pouco confortável para eles, que
passaram a vida inteira sonhado sós.
Eles apresentaram não
somente as criações resultadas da prática e do processo a que foram incentivados,
não dividiram com os demais apenas “sons, gestos, movimentos, objetos,
iluminação, imagem”, não encenaram apenas as diversificações artísticas que
caracterizam o Teatro Contemporâneo. Apresentaram a si mesmos, seus
sentimentos, histórias, impressões, ideais; Dividiram sonhos de infância e de
agora, bonitos e assustadores, grandes e pequenos, lúdicos e reais; Encenaram
arte e vida com a dor e a paixão que ilustram a atualidade.
Eles não foram só atrevidos,
só ousados, só artísticos, só inspirados, só criativos, foram contemporâneos,
ao corajosamente sonharem juntos, numa época em que infelizmente o esperado é que
sonhem sós. Eles foram artistas.
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