Experimento em Dança-teatro "O dono do amor" Foto: Layo Bulhão
No teatro contemporâneo
muitas vezes se caracteriza colaborativo, interativo, moderno, com tendências
narrativas, pós-dramático e etc. Essa nova forma de se pensar na cena gera
longas discursões em que por deveras se utiliza do clássico para explicar o
contemporâneo, o texto não é mais o centro, o autor ou diretor não é a única
mente criativa e o texto dramático não é mais a única base para a cena! Sobre isso
Eduardo César Silveira fala que:
Durante muito tempo o texto no teatro
foi um dos elementos mais importantes, que precedia e determinava a encenação.
Os atores interpretavam conforme as circunstâncias propostas pelo texto
dramático. E a criação dramatúrgica ficava a cargo de apenas um autor, o
dramaturgo. Os dramaturgos clássicos escreviam suas peças e publicavam ou as
destinavam a companhias específicas, cabendo a ele, a única função de pensar e
elaborar o texto, dando às vezes pequenos palpites aos atores durante os
ensaios, mas nada que caracterizasse uma participação efetiva no processo de
construção teatral. Nos últimos anos, entretanto, alguns grupos de teatro
começaram a se dedicar a uma pesquisa coletivizada no seu modo de fazer e de
pensar, onde a voz maior no trabalho se dava através do grupo, de todos que
participavam do mesmo. (SILVEIRA, 2011, p. 1-2).
Ao que se vê o teatro contemporâneo parte de uma
visão particular para então se tornar geral, sendo a origem do material advinda
de qualquer coisa, tudo pode virar texto... Nesta terceira unidade que se
iniciou com o ano de 2013, vamos tornar nossos sonhos, cena!
“Todo mundo sonha, sonha acordado, sonha dormindo,
sonha o que quer ser, sonha com coisas pra acontecer, prevê... Quando criança
sonhava com um vestido azul, isso deu origem a Clarissol, uma estória que me
orgulho em ter escrito, de certo, os sonhos eram mais sinceros e divertidos
quando éramos crianças, ninguém sonha mais que voa entre as árvores, ou que tem
superpoderes, ninguém mais sonha que está no banheiro e faz xixi na cama.
Parece que cada pessoa sonha que é sol, só sonha para si, só sonha consigo e
para si, mas também qual a graça de sonhar um sonho para os outros? Pensar em
sonho é pensar em nuvens, é imaginar mundos, contando os sonhos ou não, se
realizando ou não, eles serão sempre só nossos. Bom mesmo seria se o que a
gente vive fosse sonho e o que a gente sonha fosse o que a gente vive, ao menos
assim ninguém faria xixi na cama quando criança”.
Dormir nunca mais foi à mesma coisa... Foi-nos
apresentado a obra de Galeno, em que sonhos podiam ser vestidos, guardados,
escolhidos... e nossos sonhos agora eram alvo de maior atenção... Quantos de
nós já não sonhamos com alguém que se foi, lembramos nossos sonhos de criança, sonhamos
que estamos caindo, voando, correndo, lutando, falamos o nome de alguém,
blablamos, fomos pra outro mundo, falamos com animais, prevemos coisas, ou
sonhamos o que queremos que aconteça...
A partir de agora tudo isso podia se tornar material
de cena, todos poderiam colaborar e criar... Foi nessa atmosfera de sonhos que
iniciamos nossas criações. O roteiro inicial era uma simples cena que mais
parecia um jogo entre dois personagens, O mestre dos sonhos, aquele sujeito
alegre que distribuia sonhos para todos e o devorador de sonhos que deixa todas
as suas vitimas em pesadelos horríveis ou até sem sonhos. Foi ai que nasceu a
música “Sonhei”, composta pela Brenda Oliveira, a música experimental contagiou
todo mundo, grudou como chiclete, e foi motivo de orgulho pra toda a equipe,
como nosso roteiro foi assumindo naturalmente uma atmosfera infantil,
resolvemos manter, e música se tornou tema do trabalho.
Experimentamos várias formas de cantar, em camadas
diferentes, usando bem as vozes que tínhamos, cantamos no ônibus, no terminal,
na rua... Era notável o
caminho que a turma passava a tomar para uma unidade, era perceptível para
muitos a arte enquanto ciência humana e social de grupo, que as parcerias são
necessárias para um objetivo que é geral.
A terceira unidade, assim como a disciplina terminou
como se iniciou em roda, uma roda democrática digamos assim... todos tinham voz
e vez, e onde vimos naquele dia nossa turma caminhar para uma linha de
colaboração, onde observava-se que nossa união fazia nossa arte acontecer.
Nossos experimentos, que tinham como temática
principal O sonho contemplou as nossas diferenças, e os trabalhos ficaram bem
diversificados, ao final questionamos ainda a qualidade dos mesmos e sobre até
que ponto o ser experimento justifica nossa falta de “produto acabado” levando
em consideração diversos fatores, a estética por exemplo.
Sendo assim, observamos como qualidade do teatro
contemporâneo, a utilização do mesmo, seus recursos e seu contexto, no que
tange o indivíduo enquanto ser que cria, no mundo conectado, ele tem opinião é
instigador, é denunciador, e seus reflexos na arte cênica onde o mesmo é
criador, e o rompimento do texto como único material dramatúrgico, que da voz e
possibilita à mente criativa para esse indivíduo cercado de informações, e ao
mesmo tempo individualizado, que se vê em paradoxo com o processo dramatúrgico
em colaboração!
REFERÊNCIAS
COSTA,
José. Teatro contemporâneo no Brasil – criações partilhadas e presença
diferida. Rio de janeiro: 7 letras, 2009.
GALEANO,
Eduardo. O livro dos abrações. 9ed.. Porto Alegre: L&PM. 2002.
SILVEIRA,
Eduardo Cesar. Quando tudo pode virar texto: a influência da criação coletiva e
do processo colaborativo na dramaturgia contemporânea. Revista Anagrama:
Revista Científica Interdisciplinar da Graduação, São Paulo, v. 1, n. 5, 2011.
Disponível em: https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:q3j7jQ9myl8J:www.usp.br/anagrama/Silveira_texto.pdf.
Acesso em: 13 mar. 2013.
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