quarta-feira, 20 de março de 2013

O MUNDO CONECTADO E CRIATIVO

 Por Necylia Monteiro


                  O mundo contemporâneo? O que é contemporâneo? ATUALIDADE, AtualizAÇÃO, o mundo está conectado! Neste exato momento, esse mesmo, que você está lendo este parágrafo até o seu fim, milhões de pessoas estão trocando informações, milhões de pessoas vão estar se conhecendo hoje sem importar a distancia... O fluxo intenso de informações trocadas ultrapassa a barreira do tempo, espaço e diferenças... Estamos todos conectados num mundo cada vez mais individualista, essa confluências de linguagens que se cruzam entre si, formulam mil e uma novas formas de comunicação com o próprio mundo.
Poemas na internet, exposições em três dimensões, espetáculos usando transmissões ao vivo, inovadoras técnicas de pintura e escultura, a sétima arte é pura tecnologia e efeitos que transportam qualquer um para outro mundo, instalações que te levam a outra atmosfera e são capazes de brincar com nossos sentidos, a fotografia digital em apogeu, corpos que dançam com projeções e efeitos no corpo, uma violinista desconstrói o clássico e transforma sua música... Será essa a arte contemporânea? Por outro lado a arte contemporânea é aquela dos dançarinos descalços e livres, dos performers intervindo nas ruas, das exposições a céu aberto e ao acesso de todos...
Intervenção "Sinal" Núcleo Atmosfera e Grupo Cara de Arte Foto: Taciano Brito
Intervenção "Percurso" Grupo Cara de Arte
Intervenção "Percurso" Grupo Cara de Arte 
Experimento em Dança "Solos" Grupo Cara de Arte  Foto : Layo Bulhão
"Inconcretus" com Raurício Barbosa I Festival de arte contemporânea da UFMA
Experimento em Dança-teatro "O dono do amor" Foto: Layo Bulhão

No teatro contemporâneo muitas vezes se caracteriza colaborativo, interativo, moderno, com tendências narrativas, pós-dramático e etc. Essa nova forma de se pensar na cena gera longas discursões em que por deveras se utiliza do clássico para explicar o contemporâneo, o texto não é mais o centro, o autor ou diretor não é a única mente criativa e o texto dramático não é mais a única base para a cena! Sobre isso Eduardo César Silveira fala que:
Durante muito tempo o texto no teatro foi um dos elementos mais importantes, que precedia e determinava a encenação. Os atores interpretavam conforme as circunstâncias propostas pelo texto dramático. E a criação dramatúrgica ficava a cargo de apenas um autor, o dramaturgo. Os dramaturgos clássicos escreviam suas peças e publicavam ou as destinavam a companhias específicas, cabendo a ele, a única função de pensar e elaborar o texto, dando às vezes pequenos palpites aos atores durante os ensaios, mas nada que caracterizasse uma participação efetiva no processo de construção teatral. Nos últimos anos, entretanto, alguns grupos de teatro começaram a se dedicar a uma pesquisa coletivizada no seu modo de fazer e de pensar, onde a voz maior no trabalho se dava através do grupo, de todos que participavam do mesmo. (SILVEIRA, 2011, p. 1-2).
Ao que se vê o teatro contemporâneo parte de uma visão particular para então se tornar geral, sendo a origem do material advinda de qualquer coisa, tudo pode virar texto... Nesta terceira unidade que se iniciou com o ano de 2013, vamos tornar nossos sonhos, cena!
“Todo mundo sonha, sonha acordado, sonha dormindo, sonha o que quer ser, sonha com coisas pra acontecer, prevê... Quando criança sonhava com um vestido azul, isso deu origem a Clarissol, uma estória que me orgulho em ter escrito, de certo, os sonhos eram mais sinceros e divertidos quando éramos crianças, ninguém sonha mais que voa entre as árvores, ou que tem superpoderes, ninguém mais sonha que está no banheiro e faz xixi na cama. Parece que cada pessoa sonha que é sol, só sonha para si, só sonha consigo e para si, mas também qual a graça de sonhar um sonho para os outros? Pensar em sonho é pensar em nuvens, é imaginar mundos, contando os sonhos ou não, se realizando ou não, eles serão sempre só nossos. Bom mesmo seria se o que a gente vive fosse sonho e o que a gente sonha fosse o que a gente vive, ao menos assim ninguém faria xixi na cama quando criança”.
Dormir nunca mais foi à mesma coisa... Foi-nos apresentado a obra de Galeno, em que sonhos podiam ser vestidos, guardados, escolhidos... e nossos sonhos agora eram alvo de maior atenção... Quantos de nós já não sonhamos com alguém que se foi, lembramos nossos sonhos de criança, sonhamos que estamos caindo, voando, correndo, lutando, falamos o nome de alguém, blablamos, fomos pra outro mundo, falamos com animais, prevemos coisas, ou sonhamos o que queremos que aconteça...
A partir de agora tudo isso podia se tornar material de cena, todos poderiam colaborar e criar... Foi nessa atmosfera de sonhos que iniciamos nossas criações. O roteiro inicial era uma simples cena que mais parecia um jogo entre dois personagens, O mestre dos sonhos, aquele sujeito alegre que distribuia sonhos para todos e o devorador de sonhos que deixa todas as suas vitimas em pesadelos horríveis ou até sem sonhos. Foi ai que nasceu a música “Sonhei”, composta pela Brenda Oliveira, a música experimental contagiou todo mundo, grudou como chiclete, e foi motivo de orgulho pra toda a equipe, como nosso roteiro foi assumindo naturalmente uma atmosfera infantil, resolvemos manter, e música se tornou tema do trabalho.
Experimentamos várias formas de cantar, em camadas diferentes, usando bem as vozes que tínhamos, cantamos no ônibus, no terminal, na rua... Era notável o caminho que a turma passava a tomar para uma unidade, era perceptível para muitos a arte enquanto ciência humana e social de grupo, que as parcerias são necessárias para um objetivo que é geral.

A terceira unidade, assim como a disciplina terminou como se iniciou em roda, uma roda democrática digamos assim... todos tinham voz e vez, e onde vimos naquele dia nossa turma caminhar para uma linha de colaboração, onde observava-se que nossa união fazia nossa arte acontecer.
Nossos experimentos, que tinham como temática principal O sonho contemplou as nossas diferenças, e os trabalhos ficaram bem diversificados, ao final questionamos ainda a qualidade dos mesmos e sobre até que ponto o ser experimento justifica nossa falta de “produto acabado” levando em consideração diversos fatores, a estética por exemplo.
Sendo assim, observamos como qualidade do teatro contemporâneo, a utilização do mesmo, seus recursos e seu contexto, no que tange o indivíduo enquanto ser que cria, no mundo conectado, ele tem opinião é instigador, é denunciador, e seus reflexos na arte cênica onde o mesmo é criador, e o rompimento do texto como único material dramatúrgico, que da voz e possibilita à mente criativa para esse indivíduo cercado de informações, e ao mesmo tempo individualizado, que se vê em paradoxo com o processo dramatúrgico em colaboração!
REFERÊNCIAS
COSTA, José. Teatro contemporâneo no Brasil – criações partilhadas e presença diferida. Rio de janeiro: 7 letras, 2009.
GALEANO, Eduardo. O livro dos abrações. 9ed.. Porto Alegre: L&PM. 2002.
SILVEIRA, Eduardo Cesar. Quando tudo pode virar texto: a influência da criação coletiva e do processo colaborativo na dramaturgia contemporânea. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação, São Paulo, v. 1, n. 5, 2011. Disponível em: https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:q3j7jQ9myl8J:www.usp.br/anagrama/Silveira_texto.pdf. Acesso em: 13 mar. 2013.

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