sábado, 23 de março de 2013


Teatro Contemporâneo – Os sonhos de Helena

 Márcia Maia 

                                                                       O ator deve trabalhar a vida inteira, cultivar        seu espírito, treinar sistematicamente os seus dons, desenvolver seu caráter; jamais   deverá se desesperar e nunca  renunciar a este objetivo  primordial: amar sua arte com todas as forças e amá-la sem egoísmo.

                                                                                         Constantin Stanislavski      

         A última unidade a ser trabalhada na disciplina Prática de Criação Dramática foi Teatro Contemporâneo, cujas características estar em movimentos e experimentações artísticas que se opuseram ao naturalismo que dominava os palcos da Europa no final do século XIX. Surge, então, a partir do início do século XX uma nova maneira de pensar e fazer teatro, cujo experimento ganha forma e força em vertentes teatrais como: o Teatro Expressionista; o Teatro Épico; o Teatro da Crueldade e o Teatro do Absurdo.

      Para melhor compreensão desta unidade, vale destacar alguns aspectos dessas vertentes que influenciaram na formação do que hoje conhecemos como Teatro Contemporâneo.

            O Teatro Expressionista é caracterizado pela expressão de intensas emoções, enfocando o pessimismo da vida, em que a angústia, dor e inquietação diante da realidade são essenciais para a expressividade do artista, cujo desfeche estar em denunciar os problemas sociais.  O cenário expressionista inovou ao não apresentar peças com elementos realistas à cena, devido acreditar que entre a arte e a vida real há um abismo, cuja valorização da primeira tem que ser por si só e não atrelada a imitação da realidade.  Principais representantes do expressionismo teatral: Georg Kaiser (1878-1945) e Ernst Toller (1893-1939).

            O Teatro Épico se distingue por trabalhar temas coletivos, politizado. Precursores: Erwin Piscator (1893-1966); Bertolt Brecht (1898-1956), em destacou-se ao criar o “Efeito de Distanciamento”, deixando claro ao público que teatro não é vida real.

            O Teatro da Crueldade se desenvolveu na França, por Antonin Artaud (1896-1942), cuja principal característica estava em rejeitar as regras do teatro Naturalista de Stanislavski. Para Antonin, o teatro é uma estética mágica e energética, que sua execução deva ultrapassar os palcos e ir onde o povo estar, assim de fato o público se confrontaria com sua própria subjetividade, seus sentimentos.

            O Teatro do Absurdo nasceu do Surrealismo, defendendo ideias subjetivas a respeito do absurdo daquilo que não se vê e não se sente. O Teatro do Absurdo se caracteriza por expor sentimento e comportamento humano, tendo como objetivo provocar no público reflexões instigadas por personagens que revelam paradoxos, incoerências, ignorâncias em contextos de cunho expressivo, trágico, rico em discussões psicológicas e forte crítica à sociedade com seus paradigmas e valores morais burgueses. O Teatro do Absurdo recebeu esse nome do crítico teatral Martin Esslin ao refletir que a humanidade estar perdida num mundo sem sentido.

O Teatro Experimental tem como proposta apresentar ao público um teatro com poucos recursos cênicos, destacando somente no cenário aquilo que é de extrema necessidade para a encenação, valorizando assim a relação ator e espectador. Jerry Grotowski (1933-1999) é um dos grandes nomes do teatro contemporâneo mundial, criador do Teatro Pobre.

Outros nomes do teatro contemporâneo mundial que se destacaram foram: Joseph Chaikin, Eugênio Barba, Peter Brook, Richard Schechner, Heiner Müller.

No Brasil, podemos destacar alguns nomes que contribuíram com o teatro contemporâneo brasileiro, sendo: Oswald de Andrade, Nelson Rodrigues, Jorge de Andrade, Plínio Marcos, Ariano Suassuna, Dias Gomes, Augusto Boal – Teatro do Oprimido -, Amir Haddad, José Celso, Carlos Queiroz – Teatro Oficina -, entre outros.

Com uma compreensão melhor do teatro contemporâneo, foi mais fácil absorver o que a professora Gisele Vasconcelos propôs como experimento em sala de aula.  Gisele traz para dentro de sala de aula o tema “sonhos”, para isso ela oportunizou a turma trabalhar com alguns textos do Livro dos Abraços de Eduardo Galeano1, publicado em 1989. Nesse primeiro momento, eu não estava presente em sala de aula, pois precisei viajar a serviço.

Quando me fiz presente na aula seguinte, encontrei a turma narrando seus sonhos. A princípio não me vi com vontade de falar sobre meus sonhos, por que não gosto muito de sonhar, mas como dizem os cientistas: todos nós sonhamos todas as noites. Então, não podia ser diferente dos outros, resolvi dar meu depoimento. Nesse momento, a turma já estava em outra etapa do experimento, mas mesmo assim me esforcei e relatei um pouco de um sonho que se repetia em minha vida.

Um dos textos de Galeano trabalhado por toda a turma foi os sonhos de Helena. A compreensão deste texto se deu por meio de experimentos, até chegarmos a uma encenação final. Um dos experimentos se deu com os alunos posicionados em fila indiana e todos tinham que se expressar e se esforçar para chamar a atenção de “Helena” para que ela escolhesse que sonho queria sonhar. Os sonhos bons, os maus, os repetitivos, os que nunca foram sonhados, os tristes, os alegres, os que caiam no abismo, os amorosos, enfim, todos os tipos de sonhos gritavam para Helena: “Me sonha, me sonha!” Com esse experimento e outros que surgiram desde então, foi-se criando a dramaturgia para a encenação final.

Gisele dividiu a turma em três grupos, cada grupo ficou responsável em criar sua forma de dramaturgia dos sonhos, tendo o texto de Galeano como fonte de pesquisa. Dessa forma, os três grupos criaram sua versão de os sonhos de Helena. Antes de apresentarmos, Gisele teve com cada grupo um momento para poder contribuir no processo de criação dos alunos.  

Este é o grupo do qual fiz parte:

“Sonho meu, sonho meu. Vai buscar quem mora longe, sonho meu. Vai mostrar essa saudade, sonho meu. Com a sua liberdade, sonho meu. No céu a estrela guia se perdeu. A madrugada fria só me traz melancolia, sonho meu”. Maria Bethânia.

 
             
Agradeço aos componentes deste grupo por terem aceitado que eu participasse da encenação, pois não participei do processo de criação da dramaturgia no primeiro momento. Como também, a professora Gisele Vasconcelos por ter sido a profissional que foi.

_____1Eduardo Galeano, nasceu em Montividéu – Uruguai. Recebeu o prêmio Casa das Américas em 1975 e 1978 e o prêmio Aloa dos editores dinamarqueses em 1993.

Bibliografia Consultada

-            http://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_do_absurdo, em 12 de março de 2013 às 22h00min h.

- http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-teatro/teatro-expressionista-2.php em 12 de março de 2013 às 22h20min.

        http://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_Beckett em 12 de março de 2013, às 11h30min h.

        Galeano, Eduardo. O Livro dos Abraços, 1989.


 


 

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